“Igualdade” é uma das muitas palavras
que suscitam paixões mais por suas conotações do que por seu significado: um
significado extremamente difícil de definir e muito controverso. Confesso
abertamente que não sou diferente do resto da humanidade nessa questão. Sempre
que ouço a palavra igualdade usada num contexto político, reajo como um cavalo
diante de um obstáculo que não quer pular: refugo.
E isto por mais de uma razão.
Pessoalmente, não confio em igualitários. Especialmente se são intelectuais.
Raras vezes encontrei um intelectual igualitário que me surpreendesse por ser
uma pessoa realmente indiferente ao seu próprio status, e que, por conseguinte,
aceitasse de bom grado mesclar-se humilde e despercebidamente com a massa.
Assim como os filósofos que negam a realidade da identidade pessoal (e há
muitos) em geral não permanecem de todo indiferentes ao nome nos cheques que
recebem como pagamento pelas suas publicações, também os igualitários falam em
favor da vitória – a deles – pelo menos tanto quanto falam em favor da verdade.
Às vezes parece que nenhum filósofo vive como se acreditasse que o que diz seja
verdade.
Embora às vezes até tentem os
igualitários raramente conseguem sofregar a sua ânsia de dominar. Marx e Lênin,
dois igualitários bastante conhecidos, sequer tentaram. Claro: nenhum ser
humano é capaz de alinhar completamente a sua vida aos seus princípios. Eu, por
exemplo, acredito na cordialidade, mas não posso afirmar que sempre fui ou
serei cordial. A única maneira de eliminar totalmente a hipocrisia e a
impostura da vida humana seria abandonar quaisquer princípios. Só que a pessoa
que adota como meta política, princípio e paixão dominantes algo que representa
uma violência contra os desejos igualmente dominantes do próprio coração flerta
com o desastre: abre caminho às racionalizações mais elaboradas e,
fundamentalmente, mais absurdas para justificar a prática do mal em nome de um
suposto bem. É por isso que se conhecer a si mesmo, ou prestar atenção aos movimentos
da própria alma, como diz Samuel Johnson, é extremamente importante. Se você
sabe, no mais íntimo do coração, que quer ascender aos olhos do mundo, ocupar
um cargo de importância, ser melhor que a maioria e não ser pior do que
ninguém, ser admirado por todos, e assim por diante, não é bom fingir que é um
igualitário. Tal pretensão cedo ou tarde acarretará uma deformação medonha do
seu caráter e a destruição da sua probidade intelectual.
Então existe igualdade entre os homens, temos todos os mesmos sentimentos.
ResponderExcluirTanto tempo sem vir aqui... rs
ResponderExcluirAcho que esqueci de colocar a fonte deste texto. Estava em uma das provas que fiz: ufba ou uneb, ano passado. rs