segunda-feira, 24 de maio de 2021

A escrita terapêutica de sempre de novo


É sempre bom poder voltar aqui e ver que tudo é uma continuidade, ainda que essa continuidade seja feita de tantas rupturas. O sol está em gêmeos. E eu estou aprendendo a relaxar. Sempre que tento isso me deparo com a mesma causa motivadora da minha tensão. Relaxo e volto a entender o motivo pelo qual busquei a tensão. Entende? Do que é feita a vida? Sonhos, buscas, experimentos? O que é relaxar? Eu relaxo lendo um bom livro, relaxo aprendendo algo novo, relaxo assistindo um filme, relaxo ouvindo uma música geralmente dançante. Eu não relaxo olhando para o teto sem fazer nada. Eu geralmente relaxo fazendo alguma coisa. Não foram raras as vezes que eu relaxei trabalhando. A diferença está no que sinto e não no que faço. A diferença está no que sinto enquanto faço. Posso fazer as mesmas coisas que geralmente faço em estado de tensão, só que relaxada. Em estado de relaxamento. Os resultados não desmoronam, pelo contrário, eles parecem bem melhores. Mas, mesmo assim, parece haver uma falta. A falta do sentimento que havia antes. É como se a tensão preenchesse uma espécie de vazio. É como se a tensão me fizesse merecedora de algo. Do quê? É como se eu precisasse provar algo para alguém. E nem é mais como se eu precisasse provar algo para alguém. E porque eu ainda sinto falta do sentimento? É sempre do sentimento, né? Que a gente sente falta? Pelo menos, eu. Do sentimento da estima. Do sentimento de tensão. Por que eu precisei tanto desse sentimento de tensão? Relaxamento me lembra meu pai. Tensão me lembra minha mãe. O relaxamento de meu pai o levou a precisar de muita coisa na vida. A tensão de minha mãe a levou a ser independente. Mas, no fundo, nem é. Minha mãe precisa de muita coisa também. Ela só não diz, não cede, não admite. Ou talvez, no fundo, ela grite calada. Eu preciso do quê? De mim. Isso é óbvio. Mas o que eu não tenho me dado? O prazer de viver o dia a dia. O prazer de suprir as próprias necessidades de cuidados materiais básicos. O prazer da atenção detalhada e cuidadosa. O prazer de trabalhar a favor das minhas necessidades mais importantes e primárias. Isso não era importante, nunca foi. Até que eu entendo que a falta que eu sinto está muito ligada à necessidade de ser essa filha que eu nunca admiti que fui por rancor e ressentimento. O que há de errado com o banho, com a comida, com a limpeza e organização da casa? Não há nada de errado. É tão importante e urgente quanto todas as outras necessidades pelas quais eu me empenho dia após dia. No fundo, eu me empenho para suprir essas necessidades mesmo, seja quando me empenho no cultivo do meu relacionamento afetivo-sexual, seja quando me empenho para manter minha qualificação profissional e emprego. O céu é aqui, o céu está aqui. E geralmente a gente o nega em prol da ilusão que o que já existe ainda não é e está para chegar.

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