
Cara Senhorita Laíne
Perdoe-me a audácia em dirigir-lhe esta, mas não vejo outro meio imediato de comunicar-lhe um terno sentimento que me avassala o coração, o qual, anteriormente, entretanto, tentei expressar por insinuações, olhares e minha própria atitude, mais eloquente que palavras. Entretanto, a prezada Senhorita, se percebeu, não o manifestou, ou talvez não me haja dado atenção devida.
Pode parecer-lhe estranho que, estando em seu convívio quase diariamente, não lhe tenha eu expresso em palavras diretas e firmes o que sinto a seu respeito. Mas é que, ou por timidez ou respeito, ou algo inexplicável, a própria comoção, que me embargue acaso a voz, não consigo fazê-lo senão por estas linhas.
Provavelmente o receio de parecer-lhe ridículo ou de que não me aceite, pelo menos de pronto, ou até me repila, todos estes obstáculos vêm travando-me a palavra.
Mas, verdade seja dita, desde que a reencontrei, há muitas semanas, sua simpatia, sua beleza e uma afinidade incoercível, irresistível, me tem escravizado a sua pessoa, por assim dizer, sem que eu consiga dominar meus sentimentos. A princípio pensei que fosse simples atração ou admiração por suas virtudes, ou irresponsabilidade minha de rapaz. Mas, hoje, não tenho mais dúvidas, é amor, sincero, puro, inabalável, incontível.
Sua bela figura, suave como um anjo, não me sai do pensamento, todas as horas, todos os instantes, no trabalho de casa, no estudo; e, quando consigo dormir, depois de muito pensar em quanto lhe quero, visito-a em sonhos. Sou feliz ao meu modo, assim, até certo ponto. Mas só o seria de fato pela confirmação do afeto que me inspira, ao saber que me corresponde neste amor, muito mais imenso que o posso descrever.
Pronto, Laíne, não há mais segredo de minha parte. Já sabe que tem em mim um admirador, um servo de seus encantos, irresistivelmente, irremediavelmente perdido de alegria.
Queira Deus, meus sonhos não se desfaçam, a desilusão amarga não me torne triste e desesperado. Fui leal e sincero: amo-a e quero ser correspondido. Não me deixe sofrer nesta angústia da dúvida cruel que me sufoca, que me traz o ser contrito amargurado. Responda-me, por favor, e diga-me que também sou amado, amado pela dama de meus pensamentos, pela moça de meu coração e eleita de meus afetos.
Pare de afirmar para si mesma que não sente vontade de ter um homem ao seu lado, não viva em função do passado, o perigo já passou, a sua vida começa agora, eu não admito perder para as más lembranças o seu coração. Permita que Deus aqueça seu peito com brasas vivas de felicidade, agora é a sua oportunidade de ter a família que você sempre quis. O amanhã começa hoje, vamos construir juntos o nosso futuro com Deus. Abra seu coração e perceba que lhe completo como você me completa, você merece ser feliz, será que não entendeu ainda? Sou o seu homem. Nunca foi plano de Deus que vivêssemos sós. Você não vai ser mais pecadora por ter um namorado, seja corajosa e me assuma como seu namorado, se todos os homens são iguais, por que as mulheres escolhem tanto? Não existe uma pessoa solteira que seja plenamente feliz, se pensar bem, verá que tenho razão: o cristão sofre porque não aceita a vontade de Deus, ora pedindo cura e morre, pede um emprego e só ganha promessa, pede paciência e sempre tem alguém perturbando, pede paz e aumentam as brigas. O ser humano não entende, mas Deus sempre responde. O que parece um erro de Deus, na verdade são seus métodos para que desenvolvamos o que pedimos.
Agora pense! Justo na época em que você se julga bem solteira e sem nenhuma necessidade aparente, Petrusko aparece... agora conviva comigo, vou pegar na sua mão, lhe beijar, porque íntima união e apego afetivo deve existir nesta relação.
Amo-a, é tudo. Quero, porém, ser amado por sua encantadora pessoa, e aqui está a grande dúvida. Duas linhas suas, um olhar, um aviso, qualquer coisa, me diria o que pensa de meu afeto, e do que julga de mim. Seja caridosa e compassiva, faça de mim o mais feliz dos mortais.
De seu namorado
Petrusko Pedreira.