quarta-feira, 17 de setembro de 2014

E os vivos?


Ela morreu tem pouco mais de três anos. "Mas, por quê?" Eu queria entender melhor... Tenho tomado vitamina de frutas quase todos os dias bem cedinho e é quase sagrado lembrar ela me dizendo o quanto faz bem comer mamão. Ouço conselhos por todos os lados para eu me vestir melhor. Como não me lembrar dela insistindo para eu trocar minhas queridas havaianas brancas por uma sandália com feche quando eu ia sair? Todo mundo diz que eu preciso engordar um pouco e eu me lembro que ela dizia o tempo todo que eu estava muito magra. Ela ia adorar meu cabelo alisado. Eu me lembro que ela não gostava das ondinhas que se formavam quando eu entupia de creme, passava a escova e prendia. Ela me chamava para morar com ela, queria que eu soubesse o quanto ela me amava e queria que eu a amasse também. Ela dizia que era uma pessoa boa e que só queria poder provar isso pra mim. Seus olhos encheram de lágrimas quando eu disse que ia embora. E eu sempre tão fria, tão irritada com tudo... Fui sem nem me despedir. Deus me deu a graça de voltar e passar com ela o nosso último natal, de receber com alegria o último presente, de vê-la de forma diferente, de sorrir com seu jeito divertido de falar. Deixei de aceitar e buscar tantos presentes, e optei tantas vezes por desvalorizar quando podia ter apreciado, e me irritei muito mais do que sorri. É incrível essa nossa capacidade de amar os mortos... Mas, e os vivos?

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