quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Nem tão próximos nem tão distantes


Nem as pessoas mais próximas nem as mais distantes estão realmente dispostas a te ouvir. As distantes têm acesso apenas a partes de você e, não raras as vezes, julgam e definem seu caráter por aquele pedaço, aquela palavra, aquele gesto, aquela brincadeira, aquele olhar, aquele jeito de andar, quando, na verdade, nenhuma dessas coisas isoladas informam qualquer coisa a seu respeito. As pessoas mais próximas não se contentam em te ouvir, elas preferem te ler, e vão juntando todos os pedaços possíveis, fazem uma mistura, refogam na panela, untam a forma, untam tudo e assam. Vão te recriando de um jeito que nem você se reconhece, apesar de, na maioria das vezes, chegar a ficar confuso sobre quem se é, tamanha a proximidade e "influência" dessas pessoas. A individualidade - a própria identidade - é posta em risco.
Mas, existem aquelas pessoas nem tão próximas nem tão distantes, como naquela velha fábula dos porcos espinhos na era glacial: nem tão próximos para não se ferirem, nem tão distantes para não morrerem de frio. Essas pessoas conseguem a proeza de se limitarem a te ouvir sem fazer a mínima questão de te definir, de te engessar por qualquer palavra ou atitude ou por todas elas juntas. Apenas vão seguindo cientes da sua humanidade como a delas, de que um passo jamais será igual a outro assim como não há minuto gêmeo, cientes dos seus espinhos e do frio e, tão importante quanto, cientes do potencial comum de aquecer sustentado pela medida certa da relação - nem tão próximos nem tão distantes.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário